O início do período escolar traz à tona um
problema capaz de deixar muitos pais e professores de cabelo em pé. A
infestação por piolhos, que atinge a humanidade há milhares de anos, encontra
na aglomeração diária de crianças o ambiente ideal para se proliferar. O
biólogo Júlio Vianna Barbosa, pesquisador do Laboratório de Educação em
Ambiente e Saúde do Instituto
Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz), desenvolve atividades educativas sobre o
problema que ainda é alvo de preconceito. Em entrevista, Júlio esclarece que o
piolho é um inseto que provoca uma doença (a pediculose, causada a partir da
infestação pelo inseto Pediculus humanus humanus), aborda mitos e verdades
sobre o assunto e defende ações educativas como a mais importante estratégia
para um tratamento eficaz.
O que são os piolhos?
Os
piolhos são pequenos insetos que parasitam o homem e provocam uma doença
chamada pediculose. Eles se alimentam exclusivamente de sangue, preferem
ambientes quentes, escuros e úmidos e depositam seus ovos nos fios de cabelo.
Como é
seu ciclo de vida?
Os
piolhos passam por três estágios de desenvolvimento. A fêmea do piolho coloca
seus ovos, conhecidos como lêndeas, envoltos numa espécie de cola que os adere
aos fios de cabelo. De sete a dez dias depois, estes ovos liberam as ninfas –
nome do estágio do piolho logo que sai do ovo. De nove a 12 dias depois, as
ninfas chegam à fase adulta. Nesse estágio, os piolhos vivem cerca de 30 dias e
vão se alimentar com sangue e acasalar, reiniciando o ciclo. A fêmea produz, em
média, de 150 a 300 ovos ao longo da vida. A temperatura elevada é um fator
importante para a proliferação dos piolhos. Quanto maior a temperatura, mais
acelerado é o desenvolvimento do piolho dentro do ovo. Por isso, há maior
incidência do inseto no verão.
Como
acontece a transmissão?
Apesar de
ser um inseto, o piolho não tem a capacidade de voar, uma vez que não possui
asas, e nem de pular, pois não possui pernas adaptadas para o salto, como é o
caso da pulga. A transmissão pode ocorrer de duas maneiras: por meio do contato
direto, encostando cabeças para tirar uma fotografia, por exemplo, ou pelo
compartilhamento de objetos de uso pessoal, como pentes e escovas, prendedores
e lenços de cabelo, bonés, capacetes, travesseiros, entre outros.
Como
prevenir?
Por meio
de uma medida simples é possível impedir a proliferação da pediculose. Evite
compartilhar objetos de uso pessoal, como bonés, pentes e escovas, prendedores
de cabelo, lenços, bandanas ou capacetes.
O que
causa a coceira?
A coceira
é o primeiro sintoma da manifestação da pediculose e acontece devido à reação
do corpo à alimentação do piolho. Para conseguir se alimentar do nosso sangue,
o piolho utiliza duas substâncias presentes em sua saliva. Ao encontrar um vaso
sanguíneo, o inseto injeta saliva naquele local. Uma enzima anestésica impede
que o homem sinta dor no momento em que o aparelho bucal do inseto penetra no
couro cabeludo. Durante a alimentação, outra enzima entra em ação: com função
anticoagulante, ela evita que o sangue coagule no intestino do piolho. A
combinação destas substâncias promove uma reação do corpo humano,
manifestando-se na forma de coceira intensa, um incômodo que geralmente começa
atrás da orelha ou na região da nuca. Outro sintoma que pode se manifestar
especialmente em crianças, dependendo da quantidade de piolhos, é o
desenvolvimento de anemia.
Qual a
forma mais eficaz de se eliminar os piolhos?
A melhor
forma de se eliminar os piolhos é por meio do uso diário de pente fino. Para
isso, a criança deve ser posicionada de costas, sentada, com um pano branco nos
ombros para facilitar a visualização dos piolhos retirados. Com o cabelo
dividido em partes, o pente fino deve ser usado da base até o final dos fios.
Para facilitar, pode ser utilizado um creme de pentear. Essa recomendação é
fundamental, porque os produtos disponíveis atualmente não têm efeito sobre a
lêndea, que é o ovo do piolho. Para retirar a lêndea, é recomendável que se
utilize uma mistura de água e vinagre, na mesma proporção. Passe um pedaço de
algodão molhado com a solução em três ou quatro fios de cabelo, da raiz até as
pontas. Essa é uma receita caseira segura, que não traz riscos à saúde humana.
Existe um
mito sobre a presença de lêndea morta no couro cabeludo. Você pode explicar?
Quando o
piolho sai da lêndea, o ovo onde se desenvolveu, deixa para trás uma casca
vazia. Devido à cola que adere as lêndeas no fio de cabelo, elas permanecem lá
por muito tempo, surgindo, assim, a ideia de que poderia ser lêndea morto.